Vivemos um tempo fértil para o surgimento de novas formas de pensar, sentir e agir no mundo. Cada vez mais pessoas e instituições reconhecem a importância de uma educação que promova o florescimento humano em suas múltiplas dimensões — despertando não apenas o intelecto, mas também a sensibilidade, a criatividade, a consciência e o vínculo com a vida. Nesse horizonte de transformação, a transdisciplinaridade se revela como um caminho promissor, capaz de cultivar a cultura de paz — em contraponto à cultura da violência — por meio da reconexão do ser consigo mesmo, com o outro e com o mundo natural.
Fruto de décadas de reflexão e articulação entre pensadores, pesquisadores e educadores de diversas áreas, a transdisciplinaridade propõe mais do que a soma de disciplinas: ela convida à travessia. Uma travessia que integra razão e sensibilidade, ciência e espiritualidade, mente e corpo, literal e imaginal, indivíduo e coletivo, saber e ser.
Essa visão tem sido consagrada na UNIPAZ desde sua concepção, em 1987. Um dos propósitos centrais de seu nascimento foi justamente disseminar a cultura de paz sustentada na abordagem transdisciplinar holística. Sua proposta educacional integral vem delineando os contornos de uma educação comprometida com a complexidade e a inteireza do ser humano. No coração desse movimento estão os quatro pilares da educação propostos pela UNESCO:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser.
Aprender a Conhecer: Pontes entre saberes e sentidos
Conhecimento não é apenas acumular informações. Na perspectiva transdisciplinar, aprender a conhecer significa construir pontes — entre diferentes áreas do saber, entre conhecimento e vida, entre a mente e nossas capacidades interiores. Essa travessia leva à formação de seres humanos capazes de se adaptar às mudanças do mundo com flexibilidade, consciência e propósito.
Aqui, o saber é transdisciplinar — nasce da arte, da ciência, da filosofia e da espiritualidade em diálogo.
Aprender a Fazer: Criar com autenticidade
Mais do que executar tarefas, aprender a fazer é aprender a criar. A educação na perspectiva transdisciplinar valoriza a criatividade como expressão da autenticidade humana. Quando estimulamos o surgimento de pessoas criativas e verdadeiras, abrimos espaço para uma sociedade mais cooperativa, onde a hierarquia é substituída por estruturas baseadas no nível de ser — e não em status imposto ou competição.
Criar as condições para que cada pessoa floresça com autenticidade é, também, cuidar da vida em sua totalidade. Somos todos aprendizes — e é nesse espírito que cultivamos o autoconhecimento, a educação afetiva e o vínculo com a natureza como pilares de uma ação educativa viva e com sentido.
Aprender a Viver Junto: Além da tolerância
Conviver não é apenas tolerar o outro, mas reconhecer nele a mesma essência que habita em nós. A transdisciplinaridade propõe uma atitude transcultural, transreligiosa, transpolítica e transnacional, fundada na dignidade de um núcleo sagrado comum a toda a humanidade. Essa atitude, ainda que inata, precisa ser cultivada — e a educação é o solo fértil onde ela pode florescer.
Acreditamos na unidade que acolhe a diversidade e na diversidade que sustenta a unidade. Na integralidade que abraça a complexidade. Na inclusividade como prática cotidiana. Na sinergia do encontro.
Aprender a Ser: O grande enigma humano
Talvez o mais desafiador dos quatro pilares, aprender a ser nos convida ao mergulho interior. Significa investigar nossos condicionamentos, buscar congruência entre vida pessoal e social, integrar razão e coração, sensação e intuição, matéria e espírito. Essa dimensão transpessoal do ser é indispensável para uma formação verdadeiramente integral — e ignorá-la tem custado à humanidade uma profunda cisão entre a existência e a essência.
A formação de uma pessoa passa inevitavelmente pela escuta, pelo vínculo, pela memória viva dos que vieram antes, pelo cultivo da vocação e pelo compromisso com os que ainda virão. O futuro é ancestral, e nossa ação é semente.
Educar para a Totalidade
A educação moderna, em sua ânsia por eficiência, privilegiou o intelecto, deixando de lado o corpo, a sensibilidade e a interioridade. A transdisciplinaridade vem restaurar esse equilíbrio, propondo uma educação da totalidade aberta do ser humano — uma educação que não separa, mas integra. Que não fragmenta, mas tece. Que não confunde, mas distingue.
E é exatamente aí que ela encontra sua conexão mais profunda com a paz, inteireza em movimento.
Porque o que nos move é o cuidado.
Cuidar das relações.
Cuidar do conhecimento.
Cuidar da vida sustentável em sua totalidade.
Sem uma educação com sentido — inclusiva, integral, transdisciplinar — não há como construir uma paz duradoura. A partilha universal do conhecimento exige uma nova ótica, uma nova ética, uma nova escuta, uma nova forma de estar e ser no mundo. A paz não é ausência de conflito, mas presença de sentido, de respeito, de cooperação e de consciência ampliada.
A transdisciplinaridade nos convida a atravessar fronteiras: entre disciplinas, entre culturas, entre dimensões do ser. E, nesse atravessar, nos reconectamos com o que é essencial — dentro e fora de nós.
Somos raiz e voo. Corpo, alma, consciência e espírito. Conexão e presença.
Somos um chamado à Paz em Ação.

Nelma da Silva é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.