Inspirado nas ideias de Basarab Nicolescu e Edgar Morin, este texto sintetiza as contribuições da transdisciplinaridade para uma educação fundamentada em métodos flexíveis e adaptáveis, capazes de responder aos objetivos e conteúdos essenciais para uma formação cidadã alinhada com as demandas do nosso tempo. Nicolescu destaca que a transdisciplinaridade possibilita a criação de abordagens pedagógicas voltadas para uma educação integral, sustentada por princípios que refletem valores emergentes. Seu propósito é promover uma “cultura transdisciplinar” que abranja o mundo em sua totalidade, integrando o universo interior do ser humano, o ambiente externo e a interação dinâmica entre ambos.
A transdisciplinaridade complementa, sem substituir, o enfoque disciplinar tradicional. Segundo a Carta da Transdisciplinaridade, “a transdisciplinaridade não ambiciona o domínio de diferentes disciplinas, mas visa abrir cada uma ao que elas compartilham e ao que existe além delas”. Esse enfoque propicia o diálogo entre o rigor científico e o que cada disciplina oferece em comum e transcendente.
A perspectiva transdisciplinar possibilita uma educação integral, onde diversas áreas do conhecimento – das ciências naturais às humanidades – dialogam de forma fluida, integrando também as artes, como música, literatura, poesia, teatro e o aspecto transcendente. Essa abordagem foca na condição humana e, para Edgar Morin, envolve reconhecer tanto a humanidade comum quanto a diversidade cultural que caracteriza o ser humano. Segundo Morin, uma “racionalidade aberta e autocrítica” é fundamental para ver o conhecimento como um processo em constante construção, que acolhe incertezas e interconexões. Ele destaca que “todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e de um sentimento de pertencimento à espécie humana”.
No relatório da UNESCO, Educação para o Século XXI, são descritos quatro pilares fundamentais para a educação moderna: aprender a conhecer, a fazer, a viver junto e a ser. Conforme Nicolescu, a transdisciplinaridade contribui para essa formação completa, na qual aprender a conhecer significa criar pontes entre saberes e significados aplicáveis à vida cotidiana e integrá-los com habilidades internas. Esse enfoque complementa o método disciplinar, favorecendo uma adaptação às exigências da vida contemporânea e à realização das potencialidades pessoais.
Aprender a Fazer envolve tanto a criatividade quanto a descoberta, enquanto a prática do “fazer” se torna um caminho para revelar as potencialidades criativas de cada indivíduo. Esse processo contribui para uma estrutura social orientada pela cooperação e autenticidade, com o desenvolvimento pessoal como base, em vez de pela competição.
O aprendizado de Viver Junto vai além da mera tolerância às diferenças: ele inclui uma postura transcultural, transreligiosa e transnacional, sustentada pela capacidade de compreender profundamente a própria cultura e valorizar os princípios locais e globais.
Finalmente, Aprender a Ser representa um desafio de autodescoberta contínua, em que professores e alunos compartilham conhecimentos e promovem o desenvolvimento integral, incluindo a dimensão transpessoal. Esse processo une o material e o espiritual, integrando os aspectos internos e externos do ser humano, o sujeito e o objeto.
Diante da complexidade da realidade, a transdisciplinaridade surge como um caminho para construir trilhas educacionais que promovam uma formação integral e transformadora. Ao ampliar o diálogo entre ciência e humanidades, essa abordagem abre novas perspectivas para o desconhecido e o inesperado, incentivando uma compreensão mais profunda e abrangente da experiência humana.
A partir do encontro entre a Transdisciplinaridade e a Visão Holística de Mundo, a Universidade Internacional da Paz – Unipaz desenvolveu a Abordagem Transdisciplinar Holística, aplicada em seus cursos e práticas, unindo ciências, artes, filosofias e espiritualidades. Essa metodologia reflete o compromisso da Unipaz com a promoção da cultura de paz e a ampliação da consciência da interconexão entre o indivíduo, a sociedade e a natureza. Ao transcender fronteiras disciplinares, essa abordagem impulsiona o desenvolvimento humano em sua inteireza, todo e parte.
Bibliografia Recomendada:
• Crema, R. Pedagogia Iniciática. Editora Vozes.
• Morin, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Cortez Editora – Unesco.
• Nicolescu, B. O Manifesto da Transdisciplinaridade. Editora Triom.
• Nicolescu, B., e Diversos Autores. Temporalidades na Formação. Editora Triom.
• Nicolescu, B., e Diversos Autores. O Homem do Futuro: Um Ser em Construção. Editora Triom.
Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.