Mais uma vez, fui convidada a facilitar um encontro para introduzir o conceito de Transdisciplinaridade em uma turma da Formação Holística de Base (FHB) na Unipaz Poços de Caldas. Você pode estar se perguntando: por que falar de Transdisciplinaridade em uma FHB? A resposta está na essência da metodologia da Unipaz, que combina a visão holística de mundo com a Transdisciplinaridade, formando uma base essencial para a transmissão do saber e o desenvolvimento do ser.
Minha reação inicial foi de hesitação. Pensei: como criar um ambiente onde algo tão complexo possa ser compreendido de maneira simples e profunda? Foi então que recorri ao conceito de Basarab Nicolescu, que diz:
“A transdisciplinaridade, como o prefixo ‘trans’ indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento” (NICOLESCU, 2005).
Refleti sobre como transmitir esse conceito. Para quem não está familiarizado, pode parecer um grande desafio. Então, decidi focar em um tema central: Transdisciplinaridade é aquilo que atravessa.
Com isso em mente, o próximo passo foi pensar em uma experiência que pudesse gerar essa sensação de “atravessamento”. Lembrei-me de uma viagem de barco no Rio Amazonas, durante a cheia. Nessa época, muitos ribeirinhos vivem cercados por água, e o barco é o único meio de locomoção. Movida pela curiosidade, decidi parar e conversar com uma família. Perguntei ao dono da casa como era passar quase seis meses “preso” dentro de casa. Ele, com serenidade, respondeu:
“Eu nasci aqui, e todos os anos temos a época das águas cheias e a época da seca. Assim como a água vem, ela vai. Essa é a natureza amazônica.”
Fiquei impressionada com minha própria ignorância. Aqueles ribeirinhos me ensinaram que eles não se separam da natureza; são atravessados por seus ritmos. Esses ciclos naturais se fundem aos deles, trazendo momentos de introspecção, pausa e uma paciência que segue o tempo da natureza. No final, compreendi que conhecer o mundo natural é, de fato, conhecer a si mesmo. A natureza nos educa o tempo todo.
Com essa lembrança marcante, preparei a aula com a natureza como a principal professora da Transdisciplinaridade.
A vivência escolhida foi o Banho de Floresta, conduzida pela cofacilitadora que estava comigo, seguindo os “protocolos” do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia – IBE. Esse modelo de Banho de Floresta é oriundo da cultura japonesa: Shirin-Yoku — banhar-se na natureza com todos os sentidos despertos. No início, os aprendizes foram convidados a imergir no poema de Rumi e, em seguida, guiados para as experiências do Banho de Floresta:
“Por anos, imitando outras pessoas, eu tentei conhecer a mim mesmo.
De dentro, não podia decidir o que fazer.
Incapaz de ver, ouvi meu nome sendo chamado.
Então, caminhei pra fora.
A brisa do amanhecer tem segredos para lhe contar.
Não volte a dormir.
Você tem que verificar o que realmente quer.
Não volte a dormir.”
— Rumi
Ao retornarem sensibilizados e em profunda quietude interna dessa imersão de horas em duas florestas distintas, estabelecemos conexões com os conceitos da Transdisciplinaridade: os Níveis de Realidade — o nível macrofísico, composto pela Realidade Material e a Expressão (emocional, mental e psíquica); o nível microfísico — Anímico (sensível, alma, mitos, rituais); e a Integração Sagrada (o indizível, o mistério) — além da Complexidade e do Terceiro Incluído.
No texto anterior desta série sobre Transdisciplinaridade, exploramos o desafio de ensinar e aprender esse conceito, já que tendemos a recorrer principalmente à mente, algo tão familiar para nós. No entanto, o convite da Transdisciplinaridade é ir além desse modelo, adotando uma visão integrativa que reconhece e valoriza a interconexão entre os fenômenos.
O contato com a natureza nos reconecta a essa realidade integrada, despertando em nós percepções que nenhum livro pode transmitir. A natureza oferece uma visão sistêmica, onde tudo está interligado, despertando uma sensibilidade estética que amplia nossa compreensão do mundo. O que está dentro e o que está fora? O equilíbrio natural que essas vivências proporcionam ao corpo revela que somos parte de um todo, atravessados pela força vital que potencializa a vida, estabelecendo uma base essencial para a união entre o saber e ser.

Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.