Unipaz São Paulo

Conhecimento e Saber: Da Estrutura Disciplinar à Perspectiva Transdisciplinar

Transdisciplinaridade, termo criado por Jean Piaget em 1970, vai além das relações interdisciplinares. Desde o século XIII, as universidades ocidentais têm buscado formas de organizar a transmissão e a reprodução do conhecimento. Inicialmente, dividiram o conhecimento em disciplinas e especialidades, o que, embora eficaz para aprofundar detalhes específicos, fragmentou o saber. Outra abordagem propôs unir especialidades, disciplinas e áreas do conhecimento em um espaço institucional (como departamentos, faculdades e universidades), buscando unificar o diverso e o fragmentado.

Diante das limitações das disciplinas, surgiu a necessidade de explorar além dos limites estabelecidos. Novas abordagens começaram a ganhar força a partir do século XX, como a multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e, finalmente, a transdisciplinaridade.

Como são essas abordagens?

  1. Disciplinaridade:
    • Define-se como um conjunto específico de conhecimentos com características próprias no ensino e na pesquisa, focado em um domínio especializado e homogêneo. Seus princípios incluem:
      • Ordem: Visão determinística e mecânica do mundo.
      • Separação: Hiperespecialização e compartimentalização do conhecimento.
      • Paradigma hegemônico da ciência: Predomínio de uma abordagem específica.
      • Lógica clássica: Uso de métodos e princípios tradicionais.
  1. Multidisciplinaridade:
    • As disciplinas são justapostas sem relações explícitas entre elas, como a coexistência de diferentes disciplinas em um currículo.
  1. Pluridisciplinaridade:
    • Consiste na justaposição de disciplinas relacionadas em áreas do conhecimento, como matemática e física, no campo científico, ou francês, latim e grego, na área de letras. Tanto na multidisciplinaridade quanto na pluridisciplinaridade, há uma aglutinação de conhecimentos, mas não uma integração efetiva entre eles.
  1. Interdisciplinaridade:
    • Destaca-se, desde a década de 1960, como uma abordagem inovadora que combina disciplinas de diferentes áreas, envolvendo diversas metodologias, epistemologias e terminologias. As disciplinas interagem em torno de um objeto de estudo comum. Este método é complexo, exigindo:
      • Competências em várias disciplinas.
      • Superação de modelos lineares.
      • Reflexão teórica preliminar.
      • Transposição de conceitos e metodologias.
      • Desconstrução de certezas.
      • Criação de uma estrutura analítica e glossário.
      • Dinâmica relacional entre pesquisadores e entre eles e o objeto de estudo.
  1. Transdisciplinaridade:
    • Jean Piaget criou esse termo para designar  uma abordagem ainda mais ampla que as relações interdisciplinares. Trata-se de uma perspectiva abrangente e qualquer definição conceitual fechada pode limitar sua eficácia. É uma abordagem que:
      • Valoriza a objetividade das disciplinas.
      • Considera a subjetividade das pessoas,  buscando encontrar soluções práticas para os problemas apresentados.
      • Considera e integra diferentes dimensões da realidade, reconhecendo a sua complexidade.
      • Ultrapassa a lógica da exclusão, criando novas formas de conhecer e de ser.

O pensamento disciplinar, comprovadamente eficaz na pesquisa e no aprimoramento de detalhes específicos, permite avanços científicos e tecnológicos significativos que têm beneficiado muitas áreas e a sociedade. Mas para onde essa reflexão nos conduz?

Embora o pensamento disciplinar tenha seu lugar e aplicabilidade, não devemos nos limitar a ele. Por quê? Pesquisamos o detalhe do detalhe, mas perdemos a conexão com a totalidade. Essa perda de percepção conectiva e interdependente possivelmente nos leva a crises em diversos aspectos: sociais, ecológicos, educacionais, políticos, entre outros.

Contudo, é fundamental adotar uma perspectiva transdisciplinar que reconecte os fragmentos do conhecimento, admitindo várias dimensões da realidade e promovendo a interação entre eles. Reconhecendo a realidade como complexa e indo além da lógica da exclusão, essa mudança nos convoca a uma nova maneira de ser, um novo modo de conhecer e uma nova prática.

Para Basarab Nicolescu, seu principal mentor, a transdisciplinaridade é a abordagem que cria laços entre as disciplinas. Como metodologia, apoia-se em três pilares: Complexidade, Níveis de Realidade e Lógica do Terceiro Incluído. A partir deles, podemos explorar e compreender a amplitude humana e a realidade que nos cerca, favorecendo a criação de métodos, modelos transdisciplinares e práticas sem perder o horizonte do sentido.

Na perspectiva transdisciplinar, os modos de pensamento disciplinar, pluri, multi, inter e transdisciplinar são complementares. O desafio é dar a cada um seu espaço de expressão, tarefa que é desafiadora, mas necessária.


Referências bibliográficas:

  • Weil.P; D’Ambrosio. Ubirantan; Crema.Roberto. Rumo à Nova Transdisciplinaridade. São Paulo: Summus, 1993.
  • Nicolescu.Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 2008.
  • Nicolescu.Basarab e Vários. Educação e Transdisciplinaridade. Kindle. UNESCO.
  • Coll. A.N. e Vários. Educação e Transdisciplinaridade II. São Paulo: Triom, 2002.
  • Mello.Maria F; Domingues. Ideli; Galluci.Érica. Formação Integrada para a Sustentabilidade – FIS – São Paulo: FGV, 2014.

Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.

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