Unipaz São Paulo

Explorando a Transdisciplinaridade: Níveis de Realidade, Complexidade e a Lógica do Terceiro Incluído

A transdisciplinaridade, fundamentada nos pilares dos Níveis de Realidade, Complexidade e a Lógica do Terceiro Incluído, oferece uma visão ampla e profunda do ser e do saber. Esses pilares nos ajudam a desenvolver métodos e modelos que se adaptam a diferentes situações e práticas, sem perder de vista o significado e o propósito mais amplo.

Níveis de Realidade

Conforme Basarab Nicolescu, os Níveis de Realidade têm suas raízes na física quântica e foram adaptados para as ciências sociais. Eles representam diferentes camadas ou dimensões de existência e conhecimento. Cada nível é um conjunto de sistemas regidos por suas próprias leis e lógica. Nicolescu distingue entre “Real” e “Realidade”: o “Real” é aquilo que existe independentemente de nossa percepção, enquanto a “Realidade” é a nossa experiência do mundo. O “Real” é inacessível, enquanto a “Realidade” é acessível ao nosso conhecimento.

Segundo Maria de Mello, especialista em transdisciplinaridade, os níveis de percepção refletem como enxergamos a realidade. Usando nossos cinco sentidos, com ou sem instrumentos, acessamos tanto o mundo infinitamente pequeno quanto o infinitamente grande. No nível macrofísico, a dualidade sujeito x objeto predomina. Já no nível microfísico, essa dualidade desaparece, revelando que sujeito e objeto compartilham o mesmo espaço luminoso.

A abordagem transdisciplinar não é hierárquica; não há nível fundamental. Esta ausência de hierarquia indica uma dinâmica coerente entre todos os níveis de realidade, conhecidos ou a serem descobertos. Cada nível é imperfeito, pois suas leis são apenas parte das leis que governam todos os níveis. Além disso, é crucial considerar o Sujeito e sua interação com o Objeto.

Trabalhar com níveis de realidade permite abordar problemas de diferentes maneiras, desde aspectos físicos e materiais até questões sociais, psicológicas e espirituais. Por exemplo, na saúde mental, é importante considerar não apenas os sintomas biológicos, mas também os contextos sociais e emocionais dos indivíduos.

Complexidade

A complexidade se encontra entre a ordem e o caos. Sistemas complexos são formados por elementos interdependentes que interagem de várias formas, permitindo a auto-organização espontânea. Eles são adaptativos, aprendem com a experiência e evoluem com as mudanças do ambiente.

O pensamento complexo reconhece que o mundo é composto por sistemas interconectados e dinâmicos. Em vez de simplificar ou isolar problemas, a complexidade nos encoraja a ver as inter-relações e a interdependência entre os componentes de um sistema. No contexto da transdisciplinaridade, abordar a complexidade significa considerar múltiplas perspectivas e reconhecer que soluções simples muitas vezes são inadequadas para problemas multifacetados.

Por exemplo, em projetos de desenvolvimento sustentável, a complexidade nos ajuda a entender como fatores ambientais, sociais, econômicos e culturais interagem. Essa compreensão envolve especialistas de diversas áreas, que, ao interagirem, consideram os interesses de todos os envolvidos. A partir desse diagnóstico, buscam-se soluções integradas, como o desenvolvimento de políticas e práticas que equilibram as necessidades de todos.

Lógica do Terceiro Incluído

A Lógica do Terceiro Incluído, proposta por Lupasco (1900-1988), vem da física e da lógica e trata da conciliação de opostos contraditórios: “a tensão entre os contraditórios promove uma unicidade que inclui e vai além da soma dos dois termos” (NICOLESCU, 2000).

Essa lógica nos permite superar dicotomias e aparentes contradições, promovendo uma visão mais inclusiva e integradora. Ela não elimina o princípio do terceiro excluído (que estabelece que uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa, sem a possibilidade de uma terceira alternativa), mas limita sua aplicação. No campo social, a lógica do terceiro excluído se manifesta como uma lógica de exclusão: bem ou mal, mulheres ou homens, brancos ou negros. No contexto da transdisciplinaridade, abordar a lógica do terceiro incluído significa ir além da dualidade sujeito/objeto, matéria/consciência, natureza/divino, simplicidade/complexidade, através de uma “unidade aberta que engloba tanto o Universo como o ser humano” (NICOLESCU, 2001).

Por exemplo, em debates sobre desenvolvimento econômico versus conservação ambiental, a lógica do terceiro incluído nos incentiva a encontrar soluções que conciliem crescimento econômico com sustentabilidade. Um projeto fundamentado na lógica do terceiro incluído pode integrar práticas agrícolas sustentáveis que aumentam a produção sem degradar o meio ambiente, promovendo tanto o desenvolvimento econômico quanto a preservação ecológica.

E o que tudo isso tem a ver com a educação?

A transdisciplinaridade, apoiada pelos pilares dos níveis de realidade, complexidade e a lógica do terceiro incluído, pode ampliar nossa percepção sobre a natureza da realidade e do conhecimento humano.

A construção de uma atitude transdisciplinar está profundamente enraizada na educação. Nicolescu enfatiza a urgência de uma educação que considere todas as dimensões do ser humano, como condição essencial para resgatar uma cultura de vida em nosso planeta.

Para a visão transdisciplinar, uma educação só é viável se for integral, dirigida à totalidade aberta do ser humano, e não apenas a um de seus componentes. Cada aprendiz precisa ser respeitado em sua alteridade e estilo próprio de aprender.

Um saber que, sem ser posse de ninguém, flui com sentido e significado, harmonizando efetividade e afetividade, pode apontar caminhos para a plenitude da vida em nosso planeta, construindo um novo humanismo que se coloca ao lado de outras formas de vida, e não acima delas.

Weil.Pierre; D’Ambrosio. Ubiratan; Crema.Roberto. Rumo à Nova Transdisciplinaridade. São Paulo: Summus, 1993

Nicolescu.Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 2008.

Nicolescu.Basarab e Vários. Educação e Transdisciplinaridade. Kindle. UNESCO.

Coll. A.N. e Vários. Educação e Transdisciplinaridade II. São Paulo: Triom, 2002.Mello.Maria F; Domingues. Ideli; Galluci.Érica. Formação Integrada para a Sustentabilidade – FIS – São Paulo: FGV, 2014.  

Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.

plugins premium WordPress