Unipaz São Paulo

Como Criar Espaço de Ensino e Aprendizagem sobre a Transdisciplinaridade?

A transdisciplinaridade transcende as limitações das abordagens disciplinares ao integrar dimensões que vão além do cognitivo, como intuição, emoções, sentimentos, realidades e diversas formas de expressão, numa aliança entre ciência e consciência. Em vez de se opor à disciplinaridade, ela a complementa, promovendo uma aprendizagem que valoriza a integração dos conhecimentos disciplinares com outras formas de saber e ser.

Como Ensinar o Conceito de “Transdisciplinaridade” em uma Cultura Disciplinar?

A Unipaz, fundada em 1987 com uma abordagem transdisciplinar holística, serve de exemplo para a observação e investigação de como a transmissão da transdisciplinaridade tem evoluído ao longo das décadas, algo que considero essencial na minha experiência. Nossa forma de ensino está profundamente enraizada na pluri, multi, inter e disciplinaridade, e é comum que pesquisadores e facilitadores recorram a metodologias tradicionais. Isso é compreensível, pois a transdisciplinaridade ainda é um conceito emergente que exige uma mentalidade aberta e uma abordagem complexa, que, à primeira vista, pode parecer desafiadora. Durante a Turma 9 da Formação Holística de Base (2014-2015) na Unipaz São Paulo, testemunhei uma professora de transdisciplinaridade utilizar, pela primeira vez, um jogo de tabuleiro em sala de aula para criar um espaço de ensino e aprendizagem que ilustrava o conceito de forma prática e inovadora.

Como o Jogo de Tabuleiro Facilitou a Compreensão da Transdisciplinaridade?

Os participantes dessa experiência relataram uma compreensão mais profunda dos níveis de realidade, da complexidade e do terceiro incluído, que são pilares fundamentais da transdisciplinaridade. A metodologia da facilitadora enriqueceu o processo de ensino e aprendizagem ao integrar o cognitivo com outras dimensões do saber e do ser, reconhecendo a interconexão holística dessas esferas. Enquanto o ensino tradicional tende a fragmentar o conhecimento em disciplinas e priorizar a aprendizagem racional, o jogo de tabuleiro promoveu uma vivência integrada. 

Nesse contexto, o tabuleiro, as regras, o processo e os objetivos se entrelaçam com as habilidades dos participantes, como raciocínio, intuição, emoções, sensibilidade, imaginação e pluralidade de perspectivas. O resultado dessa interação criou uma “experiência de jogo” que proporcionou uma compreensão mais ampla e contextualizada, transcendendo a dimensão puramente lógico-racional-técnica.

Ao criar um espaço onde a interação entre conceito e experiência ocorre durante o jogo, o processo adquire um significado mais profundo, pela sinergia entre o método analítico e o sintético. Durante o jogo, o aprendiz encontra espaço para expressar suas opiniões e mobilizar seus conhecimentos e dúvidas em função de sua realidade ou interesses, reconhecendo-se como parte essencial desse aprendizado coletivo. Isso amplia a capacidade investigativa e reflexiva, permitindo compartilhamentos que dificilmente seriam alcançados em uma abordagem disciplinar tradicional.

Que Elementos Devemos Observar em um Jogo para Compreender a Transdisciplinaridade?

A compreensão da transdisciplinaridade pode ser facilitada pela observação dos seguintes elementos durante o jogo:

  • Dinâmica do processo: Aprender sobre si mesmo (quem sou eu enquanto jogo) — processo Autoformativo; aprender sobre e com o outro enquanto ele joga — processo Heteroformativo; e aprender sobre o ambiente, o aprendizado sobre o contexto enquanto jogo — denominado processo Ecoformativo.
  • Articulação: Jogar pressupõe participação ativa, onde reflexão, inteligência prática e atividade contextualizada estão em ação. Esses elementos são vivenciados de forma natural, sem perder de vista as especificidades do processo.
  • Rede de significação: A busca por sentido ocorre através da analogia, do pensamento e do conceito, que são partes inerentes ao jogo.
  • Potência criativa: Sentimentos, intuição, imaginação, o encontro com o nosso “eu” em ação, a pluralidade, a originalidade e a formalização teórica e racional se manifestam durante o jogo.

Esses elementos muitas vezes operam de forma inconsciente enquanto jogamos, pois os jogos, enquanto parte integral da cultura humana, oferecem uma experiência naturalmente transdisciplinar. Essa dinâmica estabelece uma conexão leve e vivencial entre o aprendiz e o aprendizado da transdisciplinaridade, tornando o processo de compreensão algo familiar e acessível.

Considerando a história do conhecimento que, sobretudo a partir do Século XVII, com a emergência do racionalismo científico, é profundamente enraizada no contexto disciplinar, a transdisciplinaridade representa um original salto qualitativo no processo de aprender a aprender. Entretanto,  ao ampliarmos o campo da escuta para o vasto contexto da cultura humana, percebemos que, seminalmente, ela está presente nas origens do saber, do fazer e do ser humano, como uma via de aprendizagens ao longo de toda a existência, de maneira fluida, global e interconectada.

No próximo texto, exploraremos uma nova proposta para enfrentar o desafio do ensino e aprendizagem da transdisciplinaridade, abordando a natureza como um exemplo intrinsecamente transdisciplinar.

Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.

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