“… Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu…”
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa
No último texto sobre a transdisciplinaridade, abordamos os três pilares fundamentais que estruturam essa perspectiva: os níveis de realidade, a complexidade e o terceiro incluído. Vamos relembrar de forma simples:
• Níveis de Realidade: Apoiam o reconhecimento da visão holística e multidimensional da realidade.
• Complexidade: Reconhece a interconexão dos elementos de um sistema, considerando múltiplos níveis de realidade e suas interações.
• Terceiro Incluído: Facilita a superação de dicotomias e contradições tradicionais, buscando integrar perspectivas opostas e ir além.
Diante disso, surge a pergunta: na prática, para onde esses pilares nos levam?
De forma prática, esses pilares nos inspiram a olhar para a vida de maneira integral. Por exemplo, reconhecer a singularidade de um indivíduo requer considerar suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas, psicológicas, espirituais, informacionais e culturais, entre outras. Se observamos as diversas dimensões das outras formas de vida no planeta, também chegaremos a realidades múltiplas e interconectadas. Portanto, os conceitos de níveis de realidade, complexidade e terceiro incluído são norteadores para uma compreensão aprofundada das realidades e de tudo que as cerca, facilitando a apropriação de um novo saber e de uma nova atitude que podem beneficiar a diversidade.
Quando compreendemos a perspectiva transdisciplinar, abrimo-nos ao desenvolvimento de uma atitude transdisciplinar. Essa atitude exige uma postura de abertura para tudo que se apresenta, convidando-nos a ir além dos limites e fronteiras percebidos nas interações individuais, sociais e ambientais que estruturam uma cultura. O próprio conceito da transdisciplinaridade nos remete ao “ir além de“. A prática consciente e cotidiana dessa atitude promove uma mudança no nosso modelo mental, que naturalmente se transforma em um pensamento inclusivo, potencializando processos gerativos de mudança e transformação.
Por que focar no pensamento inclusivo nessa reflexão? Se nossos pensamentos moldam nossas ações no mundo, o pensamento inclusivo pode apoiar ações que ultrapassam os limites e fronteiras estabelecidos por modelos mentais exclusivos e fragmentados. Em um processo discursivo, isso tudo parece tão simples. Será mesmo que podemos simplificar essa história? Na minha experiência como aprendiz da atitude transdisciplinar, tenho descoberto que a pergunta que me acompanha nessa jornada tem sido: “Eu sei agir de forma inclusiva conforme a realidade me pede?” Em praticamente 100% das vezes, reconheço que “não sei”. Isso me abre para investigar caminhos possíveis. Escuto pessoas que enxergam o mundo com lentes diferentes das minhas. E, muitas vezes, juntos, nos permitimos experimentar para além do “certo e errado“. Essas experiências têm me mostrado que o meu pensamento inclusivo se desenvolve continuamente, aprimorando a abertura para as investigações e a exploração de novas possibilidades, de onde emergem soluções criativas, inovadoras e integradoras.
A perspectiva transdisciplinar nos mantém abertos ao novo com uma escuta sensível que fortalece o pensamento inclusivo, relembrando que tudo é novo a cada instante. Pensar inclusivamente é respeitar as diferenças, narrativas, expressões, formas de vida, resultados, realidades múltiplas e outras reflexões e inquietações, permitindo-se experimentar novas possibilidades. Podemos assim ser transformados de uma experiência para outra ou no transcurso do tempo. Essa abordagem nos permite ampliar o caminho que nos trouxe até aqui, promovendo um ambiente onde a inovação acontece e a diversidade floresce.
Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transformação Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.